quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ana Jorge e a Sarah Palin

Não pude deixar de me espantar ao ler nos jornais matutinos que a Ministra da Saúde Ana Jorge:

1) desconhecia a dívida do seu ministério;
2) afirmou que os cheques dentista têm sido um sucesso tal que a prevalência de cáries na população já diminuíu significativamente.

Se em relação ao primeiro aspecto não vou discutir a necessidade de uma ministra saber com exactidão a matemática toda que está por detrás do orçamento de estado, acreditando haver outras pessoas que estão lá para isso mesmo, enquanto ela se deve concetrar em aplicar as políticas e avaliar a situação, é inadmissível na minha óptica afirmar que não sabe da dívida do seu minstério, levando até a desconfiar se sabia se tinha dívida uma ou não. Assusta-me esta desresponsabilização assumida com tanta arrogância e que sem dúvida que está na matriz do próprio problema nacional: políticos que chegam ao poder essencialmente para benefícios pessoas.

Em relação à segunda observação, parece-me óbvio o que aqui a Ana Jorge tentou fazer: uma vez que não podia mandar um número para o ar em relação à dívida, sob pena dos jornalistas analisarem (aqueles que não são totalmente preguiçosos e ainda há um ou dois assim) e encostarem-na à parede, aproveitou para cuspir para uma análise estatística difícil de contradizer pelos jornalistas (portugueses), cujos métodos de investigação geralmente não vão muito além de idas ao pingo-doce para comprar garrafas de uísque. Ou seja, mas alguém acha que é possível que com um ano de implementação dos cheques-dentista, mal distribuídos pela população e sem controlo algum, fazer-se uma análise estatística válida que conclua que a incidência de cárie está a diminuir???

Estamos sem dúvida na presença da Sarah Palin portuguesa, e o pior é que a comunicação social mantém-se distante e fria, sem querer intrometer-se muito, por falta de capacidade de investigação.

sábado, 1 de novembro de 2008

O uso dos antibióticos

Ao longo da minha carreira devo ter ouvido esta frase mais de mil vezes: ó doutor então e não me dá antibiótico? Não!
A resposta invariavelmente causa uma expressão de cepticismo medieval na face dos pacientes, tal habitual é o uso destes fármacos. Por isso mesmo, e porque geralmente os profissionais de saúde não querem confrontar esse cepticismo, com receio de serem considerados
maus doutores, é prescrito o antibiótico.

E o que faz esta droga, então? Duas coisas antagónicas:
1) mata/inibe reprodução das bactérias, diminundo o risco de infecção após intervenção dentária;
2) se usada descuidadamente, como é a maioria das vezes, acaba por não eliminar as bactérias todas, dando-lhes a possibilidade de se tornarem
resistentes ao medicamento.

Isto quer dizer, em termos muito práticos, que em Portugal aproximadamente
mais de 1/3 dos pacientes são resistentes aos antibióticos mais comuns, (isto é têm bactérias resistentes) ou seja, se um dia destes tiverem uma infecção mesmo séria, será bastante difícil combatê-la. Se compararmos esta percentagem com a da população do Reino Unido (cerca de 4% de resistências) iremos ficar bastante alarmados.

Claro que mesmo assim se torna sempre muito mais fácil para o dentista prescrever o antibiótico, mesmo sabendo que está a contribuir para este negro cenário pois evitará em princípio que o paciente desse modo:
1) fica mais confiante pois está a tomar antibiótico;
2) dá mais valor ao dentista pois
"aquela situação era complicada tive de tomar antibiótico e tudo!"
3) se eventualmente acabar por haver mesmo uma infecção, o paciente não vociferá
"e aquela besta nem sequer me deu antibiótico!"

Pacientes e colegas: com tratamentos conservadores, com cuidados devidos de assépsia e desinfecção, uso de dique de borracha, uso de materiais indicados para a situação, cuidados de higiene oral e de cumprimentos das indicações do dentista evitarão a necessidade de terapia antibacteriana coadjuvante em 99% dos casos.

DF

Os avanços na Medicina Dentária

Começo antes de mais por responder aos caríssimos colegas que têm acompanhado este blog, o que muito me honra e é claramente um sinal de que finalmente a comunidade dentária finalmente se voltou para o mundo da internet; o mesmo é dizer: para o contemporâneo.
Algumas das observações feitas foram de natureza crítica, o que acho ser muito positivo e acima de tudo para mim, um homem dedicado à ciência e aos seus avanços, natural. De que outra maneira se atinge evolução senão pondo em causa as concepções dos outros e as próprias sem constragimentos?
Contudo, insinuar má prática e ignorância é já uma outra aproximação à mesma realidade, especialmente num espaço de vertente "pública" como é a blogosfera. Não é pretendido nesta publicação discussão sobre a abordagem do médico dentista ao paciente, mas sim a discussão construtiva e informativa para o paciente. Mas enveredarei também pela primeira de modo pontual, se quiserem.
Acredito que tudo o que aqui escrevi é válido e se nalguns casos poderei apontar imediatamente fontes que me apoiam as palavras, noutros infelizmente essas fontes encontram-se ainda por publicar. Todos os ilustres colegas sabem da natureza das publicações científicas (eventualmente alguns não estão tão familiarizados com as mesmas) de cariz sobretudo comercial. O mesmo é dizer, caros leitores, que só se publica aquilo que tem interesse para determinadas empresas corporativistas, como a indústria que está por detrás dos agentes branqueadores, como exemplo.
Continuarei pois a manter a vertente informativa e independente desta publicação que, sim, é dirigida sobretudo aos pacientes (mas a vossa participação será sempre bemvinda!). Como os colegas concordarão, é inadmissível que no ano de 2008, a informação dentária direccionada para a população geral difundida pela internet em Portugal seja deveras escassa, ao contrário de outros países.

DF

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Desvitalizações e dentes escuros

Depois de um período sabático, em virtude de um avanço muito significativo que dei à minha tese de doutoramento, proponho-me de novo a escrever neste blog. Geralmente faço-o baseado em casos que me aparecem no consultório com peculiar frequência, como nesta última semana.

Falo-vos daqueles dentes da frente que de repente ficam escurecidos, às vezes apenas subtilmente, como que mais baços ou acinzentados, noutros casos aproximadamente castanhos ou argilosos. O que causa a negritude e como eliminá-la?
Pode ter várias causas, mas as mais frequentes são:
1) desvitalizações incorrectas, deixando restos de sangue no interior do dente, que depois o escurece;
2) desvitalizações correctas mas que com o tempo levaram a desidratação do dente
3) traumatismos
4) períodos de ansiedade

Como qualquer atitude médica, o primeiro passo passa pela remoção de causa: repetir desvitalizações, desvitalizar, reduzir níveis de stress. Depois poder-se-á tentar branquear os dentes. Noutro post falei-vos do sumo de limão para esse efeito, no entanto, quando direccionado a apenas um dente e não toda a arcada, torna-se pouco eficaz. Recorrer-se então a um profissional torna-se incontornável, pois.


DF

domingo, 6 de janeiro de 2008

Os implantes dentários

Vieram da Suécia para substituir os dentes estragados das pessoas, mas farão as vezes das seculares próteses removíveis? É o que me perguntam com insistência diária, quase.
A técnica de colocação de implantes tem vindo de facto a evoluir de maneira impressionante: se dantes aconselhava-se um período de adormecimento do implante (enroscado no osso de maneira extremamente cautelosa) prévio à colocação do dente propriamente dito (a coroa), hoje em dia há pessoas da escola do Paulo Maló que acreditam ser possível fornecer as coroas ao mesmo tempo, até quando se trata da dentição inteira.
Ora bem, onde me situo eu nesta matéria? Do lado da ciência, caros leitores, da ciência.
E o que nos diz ela? Que os implantes são a melhor alternativa possível a qualquer tipo de edentulismo. As taxas de sucesso (na minha prática) actualmente rondam os 100%; a técnica cirúrgica é indolor; os efeitos secundáios inexistentes; probabilidade de rejeição: nula; contra-indicações: não se conhecem.

Mas e os fumadores e diabéticos e portadores de HIV? Dir-vos-ei que os hábitos de cada um são totalmente independentes à sobrevivência dos implantes. A improbabilidade de falhanço implantar tanto acontece com os fanáticos das escovas de dentes como aos vendedores diabéticos da revista Cais. E porque é que isso acontece? Por que é que as pessoas que perderam os dentes todas por causas infecciosas não perdem os implantes? A resposta é simples: porque as bactérias que atingem uns e outros não são as mesmas.

Portanto, aquilo que os leitores têm ouvido nos consultórios que a colocação de implantes requer especificidade individual... é ignorância, apenas.
Os implantes dentários são a maior revolução na reabilitação médica, e no Brasil já recorrem tantas pessoas a eles quanto às que recorrem aos implantes mamários (na proporção do universo feminino, obviamente).

Se tiverem outras dúvidas relacionadas com este tópico, sintam-se à vontade para perguntar!

DF

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Congresso OMD

Mais um congresso da Ordem dos Médicos Dentistas se passou e mais uma vez considero que seja de lamentar o facto de alguns dentistas de relevo na sociedade terem sido rejeitados pelo comité científico. Mas estive lá e acho que é importante o público em geral ter conhecimento do que o que se passa no congresso mais importante do ano na área de Saúde Oral, tema este tradicionalmente vedado à população leiga.
Ora digo-vos aqui que nada de especial se passou por lá. No primeiro dia, alguns dentistas portugueses, associados a faculdades (o que é mau sinal,
per se), expuseram o que eu chamo de redundância científica, tirando académicas pomposas conclusões daquilo que outros fazem diariamente desde há anos para cá, como por exemplo o Paulo Maló e eu próprio. Resumindo, a nata do academismo borgesso do nosso país.
Seguiram-se nos dias seguintes as apresentações mais interessantes do Mauro Fradeani, dentista italiano, muito conhecido por ter também inventado o
bistecco parmegianno, e que soprou umas ideias e conceitos audazes, e do Spreafico, também italiano, do qual pesquei umas boas dicas, embora a sua ideia geral foi a de que a Medicinia Dentária terá hoje em dia atingido o seu apogeu máximo, o que discordo substancialmente.

A ideia essencial que quero que o leigo leitor retenha é a de que hoje em dia esta área está próxima da estagnação intelectual, os dentistas continuam a usar tecnologias e métodos desenvolvidos até metade dos anos oitenta: a partir daí a evolução foi quase inexistente. Deixou de haver audácia, arrojo e principalmente clarividência. Os académicos de Portugal limitam-se a exibir os seus títulos nas placas dos consultórios, sem contribuir em nada para um verdadeiro desenvolvimento.



DF

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Poder-se-á evitar a doença periodontal?

Está estudado que a principal queixa humana depois dos 45 anos é a de dentes a abanar, seguida de muito perto pela de dor de rins e articulações que estalam. Por que é que nos abanam os dentes depois dos 45 anos?
Os antigos acreditavam que tal se devia à perda massiva da gengiva, conotando-lhe factores religiosos, nomeadamente heresia. O herege, rico em potássio e ácido sulfúrico no sangue - cria-se - alimentos essenciais à vida de alguns vermes, estaria predisposto à piorreia (era assim que se designava esta doença) .
Hoje em dia sabe-se perfeitamente que os factores religiosos não estão muito relacionados com qualquer tipo de doença, excepto a mental, e a periodontite (nome correcto a utilizar) tem causas essencialmente genéticas.
Ou seja, por melhor higiene oral que se tenha, não há dúvidas científicas de que o humano geneticamente predisposto terá, pelo menos em alguma fase da sua vida, periodontite.
No que se traduz a periodontite? Na perda dos tecidos de suporte dos dentes, ou seja, na sua mobilidade excêntrica e finalmente na sua queda.
Como tratar? Removendo os dentes infectados e colocando implantes dentários. Num episódio inicial ou em doença moderada, poder-se-á optar por preservar o dente em causa, sabendo já à partida que a sua higienização irá ser cada vez mais comprometida e que portanto o prognóstico a médio/longo prazo é duvidoso.

Num outro post, falarei acerca dos implantes dentários.

Boa sorte com o vosso código genético!

DF